terça-feira, 22 de novembro de 2016

Carta para Jack Turner

Meu, agora desconhecido, filho, Jack Turner...

Não sei como ainda tive a coragem ou a audácia de escrever para um monstro. Talvez, porque, de alguma forma, eu me sinta responsável e, afinal de contas, ainda somos pai e filho. Ainda existe essa ligação, mesmo regada pela tristeza e desconfiança provocadas pelas tuas atrocidades. Tento ser forte por mim e por sua mãe, mas o ódio, tal sentimento tão próximo quanto oposto ao amor de família que eu sentia por você, me obrigou a escrever essas palavras com o intuito de te machucar. Mesmo sabendo que estas de nada vão afetar seu coração indigno de sobrevivência.

Eu te alertei antes que aquela garota não era uma boa companhia. Minha esperança é que ela tenha sido essencial para a sua mudança de atitude e, talvez, você esteja sendo manipulado por um mal muito maior do que o seu corpo pode resistir. E se for assim, espero que esta carta ajude-o a desfazer os encantos criados pelo feitiço dela.

Uma semana antes do envio desta carta, soubemos que você, auxiliado por aquela feiticeira de péssimas intenções, mataram o guardião do bosque. Sacerdotes dos Quatro encontraram o corpo do couatl enquanto subiam o Santuário entre as pedras. Eles falaram que o o guardião foi atingido, várias vezes, fatalmente, e que suas escamas falharam em protegê-lo. Encontraram a entidade protetora do santuário sangrando e depenada, sem a cor viva que emanava de seus olhos.

Eu neguei. Tal atrocidade não poderia ter sido executada pelo meu filho. Um Turner jamais faria isso... mas, então, vieram os heróis à sua procura. Ou, pelo menos, à procura de informação. Um grupo denominado Discípulos da Lenda querem a sua cabeça. Você já deve saber disso. E não por menos... a lista de assassinatos e obras vis é imensa... e eu me pergunto porquê!?

Porque você resolveu se envolver com a magia profana de Saulot?
Qual o motivo de você ter assassinado tantos servos dos Quatro?
Que tipo de atenção você queria obter ao enforcar os últimos servos de Splendor num estandarte?
Porque você coleciona cabeças de sacerdotisas de Amaryllis?
Quantas cidades serão sacrificadas pela sua vontade?
Quantos anjos perderão suas asas para satisfazer a sua causa?
Porque? Porque tantas atrocidades... filho?

Os heróis, esses Discípulos da Lenda, estão a sua procura e, pelos Quatro, eu espero que eles te achem e que te punam com uma morte horrível! Eles estão aqui, em Bom Lar, protegendo-nos da sua possível aparição. Eu lamento que outras cidades de Rivergate não tenham a mesma proteção que nosso pequeno vilarejo possui e que estejam a mercê de um monstro como você.  

Sua mãe voltou àquele estado deplorável. Temo que, até que você receba esta carta, ela já tenha sucumbido à morte. Eu não sei se sobreviverei a tanto desgosto, mas tentarei manter-me vivo até ter a certeza de que vi sua cabeça pendurada em uma árvore.


Jack Turner, o assassino atroz


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