quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Carta para Aensell

Absalom, changeling infiltrador


Caralhos... se eu soubesse em que merda estava metendo a porra da minha mão, tinha pensando duas vezes antes de aceitar essa missão. Mas, vamos lá. Enfim, tarefa bem sucedida, pé na estrada, tinta na folha. Tenho muita história pra contar.

Meu nome é Absalom. Esse foi o nome que me deram, mas, de onde eu saí, não precisávamos da droga de um título pra ser chamado. Eu escrevo pra esse tal de Aensell, porque me foi exigido isso. Parece que você, meu garoto, anda pisando em bosta... não sou bem entendido dessas questões, mas, pelo que percebi, seus miolos vão estourar e sair pelos ouvidos. Não vem ao caso...

Bem, eu sou um infiltrador. Um ofício que, devo confessar, é bastante facilitado pela minha habilidade extraordinária de transformar-se em qualquer indivíduo. Até uma década atrás, não existiam pessoas como eu aqui nesse mundo. Eu vim de outras paragens, é claro. Um lugar que vocês chamam de "O Plano do Esquecimento". Então, parece que não fui só eu quem escapou daquele lugar cinzento. Eu tenho alguns irmãos aqui...

Vocês nos chamam de "changeling" e, alguns já sabem que nossa infestação para a próxima era é inevitável. Uma pena que tenhamos chegado aqui numa época tão cagada. Não vou mentir, foi bastante fácil me adaptar ao seu mundo. Todos caem como patinhos em nossos mentiras. Temos liberdade de fazer nossas escolhas e fugir sem levantar desconfianças. Aqui eu já fui humano, elfo, anão e orc. Eu também posso ser você, se eu quiser. Não importa.

Nesse mundo só há dois lugares que nos interessa e que podem, de alguma forma, dificultar o uso de nossas habilidades: Mordae (embora poucos de nós tenhamos alguma proficiência com magia) e a tão preciosa Draganathor e seu comércio infinito! Eu gosto tanto desse lugar que já permaneço aqui a algum tempo. Conheço cada buraco, cada entrada e saída e, sabe quando dizem que aqui a taxa de criminalidade beira à zero? ...Ridículo.

Pois bem, provavelmente, foi por ter esse conhecimento aprofundado de Draganathor que fui escolhido pra essa missão: me infiltrar numa das Torres de Mestres Draculean. Você deve saber do que estou falando. Meu contratante disse que você nasceu aqui.

Mal ouvi essa sandice e já xinguei a lagartixa que me deu essa missão idiota e impossível. Ah! Sim... Esqueci de falar sobre esse cara. A criatura que veio ao meu encontro foi um baixinho chamado Doblok. Ele é um "kobold", pelo menos foi isso que ele disse quando perguntei que diabos ele era. Eu falei pra ele que o que ele pedia era impossível e que aqueles que frequentam as torres são identificados imediatamente porque tatuam uma porra de marca de escravatura em seus corpos. Eu tenho minhas habilidades, mas elas não permitem simular aquelas tatuagens estranhas.

Doblok, então, me veio com uma conversa de que era capaz de criar uma daquelas coisas em mim e que elas não afetariam a minha mente como afetam as dos escravos babacas. Logo, duas coisas me convenceram a aceitar a missão. Primeiro, o desafio. Eu adoro ser desafiado. Segundo, o ouro que ele jogou na minha cara. Ah! O ouro tão necessário para a minha humilde e satisfeita vida. Então, eu fui lá...

Mas, merda... eu não entendi muita coisa, não. A primeira informação que consegui foi a de que um tipo de demônio, entidade, bruxo, sei lá, invadiu Draganathor e foi facilmente detido pela Milícia Draculean. A coisa foi arrastada até a tal Torre Draculean que eu fui incumbido de invadir. Então, atraí um dos Escravos dos Dragões pra um lugar escuro - essa parte foi realmente divertida - e bati algumas vezes em sua cabeça até que ele caísse inconsciente. Depois roubei suas feições e o tal kobold tratou de me "tatuar" adequadamente. 

Não vou mentir, a tal marca da escravatura ficou perfeita. Me senti mais do que confiante para a missão. Tanto que poucas horas depois eu segurava o riso de contentamento, pois era o primeiro changeling a entrar numa Torre Draculean sem levantar suspeitas. Vou te dizer, eles têm coisas bastante curiosas lá. Os primeiros salões são bem a cara da burguesia, depois, o lugar se transforma numa masmorra escura e cheia de sofrimento. Se eu fosse detectado como impostor àquela altura, por Chesire, eu ia encontrar um jeito de matar aquele kobold.

O lugar estava silencioso, mas meus ouvidos são bem sensíveis. Havia algo ocorrendo nos salões mais profundos daquela torre-masmorra. Os Escravos Draculean passaram por mim estúpidos e enganados e eu cheguei até o interrogatório.

Lá estava aquele bicho preto, feito de escuridão. Bem diferente do que me descreveram, na verdade. Até suspeitei que pudesse não ser a coisa que procurava. Uma Mestre Draculean estava bastante chateada porque não conseguia obter respostas da criatura. Ela era uma bela mulher, diga-se de passagem. Pude sentir o cheiro dela a distância. Um doce cheiro de rosas ou ervas, eu sei lá. Não importa, não é?

A Mestre Draculean chamava a coisa de Macabeus, Zaqueus, Aztapheus - ou qualquer coisa que rime com esses nomes - e o demônio parecia bem arrependido, preso em grilhões mágicos. Ele estava de joelhos. Parecia forte o suficiente para, pelo menos, tentar quebrar aquelas correntes, mas, ele estava acuado, de cabeça baixa, distante e triste... como uma criança que acaba de perder o brinquedo ou um velho tarado que sabe que nunca mais vai ver a sua puta favorita.

"Eu já informei minhas regras do acordo. Você me leva até ela, eu levo vocês até eles." - o demônio falou.

"Você não está em condições de ditar as regras" - retrucou a Mestra bonita.

"O problema de vocês Draculean é que se acham dominadores de tudo, mas, se surpreenderiam se percebessem que são apenas peças secundárias de um tabuleiro." - Macabeus não queria conversa.

"Se você insistir em blasfemar terei de lhe mostrar a situação em que você se encontra." - a Draculean queria menos ainda.

"Você acha que tem domínio sobre mim, mas, eu mostrarei para você com o quê está se metendo." - e aquela coisa desejou testar seus poderes em alguma coisa viva que não fosse a Mestra. Adivinha quem era o fodido que estava lá, naquele momento?

Senti meu pescoço ser estrangulado por uma puta força invisível. Ela me ergueu e eu comecei a salivar sangue. Tinha alguma coisa em meu estômago querendo sair. "Kobold maldito!" era o que eu queria gritar, mas, já não havia fôlego. Então, a Draculean mexeu seus pauzinhos. "Ela também deve ter um truque bacana", eu pensei... e estava certo.

Poucos momentos depois, as paredes, o chão e o teto da masmorra foram partidos por um barulho estrondoso de ferro serpenteando pela sala. Eram correntes. Correntes enormes, do tipo que se usa para imobilizar gigantes das colinas. Zaqueus não pareceu dar atenção àquela maldita invocação, ele estava muito satisfeito em me ver transformar-se num saco de tripas torcidas. Aí ele ouviu aquela voz do outro mundo...

Todos da sala ouviram, aliás. A mão invisível que me sufocava perdeu forças enquanto Aztapheus mantinha-se atônito à aparição que acompanhava as correntes gigantes. Agora, acredite no que eu digo... Não era grande coisa. Pelo menos, não aparentava. Com certeza, Macabeus parecia ser um demônio muito mais forte, mas, por alguma razão, ele encerrou sua demonstração de poder.

"Irmão!" - falou o impressionado Aztapheus - "Você... você se uniu aos Draculean..."

Então, aquele humanóide feito de escuridão, portando uma coroa de sangue, respondeu: 
"Não posso me permitir retornar àquela prisão no vazio, Aztapheus. Não seguimos mais à Trindade Macabra. Eu tenho a minha lei de sobrevivência, você tem a sua..."

"Não lutamos por causas inimigas, Moil. Você precisa me ajudar! Faça-me encontrar ela. Eu te darei o que quiser!" - Macabeus sabia mesmo o que estava querendo.


O Conhecimento Negro de Moil


"É incrível como os laços que impuseram em você e as guerreiras de Irminsul ainda continuam fortes, depois de tantos séculos. Seu estado é lamentável. Eu não desejo ver um irmão assim. Especialmente um que prometa servidão. Farei o que estiver ao meu alcance. Onde está ela?"

"Sob as posses de um elfo. Um servo que luta pelas mesmas causas dela."

Cara, então, eu fugi. Chega de papo. Mesmo. Pra mim, esse tal elfo tá fodido. Acho que ele já pode se considerar morto e, morto, é um estado que eu não estou graças às minhas pernas rápidas.

Enfim, aqui, finalizo essa carta com os dizeres que concluí serem necessários.

Aztapheus e a Guerreira de Irminsul

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