quinta-feira, 13 de abril de 2017

Aensell e a última visão




As paredes da Biblioteca Etérea passavam de um vislumbre translúcido para a matéria-prima de mármore, granito e bronze que comportavam sua verdadeira estrutura. Havia milhares de livros espalhados por organizadas prateleiras. Estantes gigantescas que exigiam o uso de escadas para alcançar o patamar mais alto.

O centro do Salão de Vidência irradiava uma tênue luz azulada que mostrou-se mais vívida conforme a aproximação do mago. Era uma esfera vítrea, límpida e espelhada que, apesar do formato redondo, projetava uma imagem perfeita de Aensell. Ele se olhou pela primeira vez, depois de muito tempo, e viu a máscara que fazia de seu rosto algo a ser temido. Sua presença inundada por uma cortina de névoa esbranquiçada. Crescido, esticado, sozinho e sombrio.

Em seu reflexo, uma mão encrustada de anéis tocou-lhe o ombro e Aensell pôde ver o espectro, uma projeção da memória de seu antigo mentor. Aquele presença poderia estar esperando a hora certa de aparecer ou simplesmente era um produto malicioso da mente conturbada do mago.

Aensell pôde ter sentido as palavras invadirem sua boca num desabafo irresistível ou poderia ter ouvido a voz que se propagava da esfera cristalina ou de algum lugar da Biblioteca Etérea:

“Nós, provavelmente, não recordamos mais de muita coisa.
Agora o mundo é uma silhueta e,
quando formos adultos nós iremos cuidar de coisas importantes
Sem receio, medo ou objeção.
Apenas pretensão de continuar a defendê-la
Sem perder qualquer momento.”

E viu-se como a mais despreparada pessoa. Um neófito que ainda tinha muito a aprender sobre tudo… principalmente sobre si mesmo.

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