quarta-feira, 28 de junho de 2017

Uma carta de Mandrath, o drow PARTE 1

"Para o leitor desta carta, seja ele quem for,

Meu nome é Mandrath Sylmariónn, conhecido como o drow de Três-Reis, ou ainda o Profeta de Erathol. Se esta minha epístola chegar nas mãos certas - entenda, meu caro leitor, que nas mãos certas, refiro-me a alguém sábio o suficiente para usar as informações descritas a seguir em prol ao bem do mundo. Muito do texto corrido nessa página rabiscada foi endereçado a um jovem mago chamado Aensell, sucessor de Sigmund Fawkes, o líder dos magos da Ordem Arcana de Azran que, por sua vez, foi discípulo do alienado Thanabulos, segundo senhor da Távola de Brastav, ambos servos de Lorde Irun, que descanse em paz aonde ele estiver.

Porém, minhas esperanças que essas anotações cheguem às suas mãos são poucas. Como adivinho, preso nesse casulo de carne que tornou-se Draganathor, minhas magias estão escassas e não posso me certificar de que isto chegará às mãos dele. Também não posso me certificar que Aensell esteja, de fato vivo e incorruptível, então, deixo nas mãos daquele que tomar esse papiro a missão de usufruir dos escritos a seguir. 

Antes governante do reino de Três-reis, agora me considero parte de um grupo denominado muito astuciosamente por meu amigo Javert de "Penúltima Esperança". Talvez nossa fama tenha chegado além dos limites da Cidade de Carne e, talvez, caro leitor, você reconheça esse grupo como algo menos presunçoso como "Os suicidas" ou "Os loucos esperançosos". Tal título também possa ser astucioso já que, boa parte de nós, com exceção do abusado, porém infalivelmente útil, Frinstle, chegamos em Draganathor antes da vinda da Cidade de Carne e a esperamos como um pequeno exército na linha de frente, prestes a ser massacrado.

Sim, eu reconheço que existe um tanto de loucura nessa decisão, mas, como diz meu cordial e recente amigo Aldebaran "somente os loucos salvarão esta merda de mundo". Viemos por vontade própria e agora, aqui estamos, onde nos estabelecemos desde o princípio, uma taverna na terceira ala da Torre da Dragocracia nomeada de "Dragão Uivante". Ao nosso redor a Cidade de Carne.

Esse local vive, transpira e retumba inquieto. Procura o resquício de vida que existe na torre e a devora pouco a pouco. A prisão de carne. Sentimos à todo momento que estamos no estômago de alguma coisa horrenda e gigantesca. Nos mantemos vivos graças a uma magia invocada por Yin Yamanaki, a deusa da redenção, em contos denominada a irmã do aspecto do próprio Splendor. Não sei bem se posso chamar nossa proteção de magia. A monja à chama de Bezoar, ou artefato do Éden, seja como for, mantemo-nos protegidos pelo que me parece ser temporariamente.

Sei pouco sobre o tal Éden. A sábia monja diz que é de lá que todas as almas puras, reconhecidas pela maioria de nós como Essência, nascem. Revela também a andarilha que ela é capaz de visitar o local quando medita, mas que poucos são capazes de assim fazê-lo. Por motivos óbvios ainda não tive tempo de teorizar sobre esse "mundo paralelo", o que me causa bastante infortúnio uma vez que já me deram o título de Mestre do Conhecimento e pretendo mantê-lo até onde posso.

Yin vagou como uma alma perdida ou um anjo invisível, irreconhecível durante muito tempo, pela Torre da Dragocracia e escondeu seus valiosos bezoares pelas alas dessa magnífica construção. Eles são uma finíssima esperança de descanso para quem ainda mantem-se vivo no meio desse casulo de carne e é por proteger essa "magia do Éden" que nos arriscamos a sair da Dragão Uivante e buscar pelas informações referentes às bizarras Hordas Trôpegas, Proles Sombrias e Mortalhas que vivem na Cidade de Carne.

Os mais corajosos (ou insanos) de nós saímos periodicamente para aventurar-se nessa masmorra carnívora. É Arafat, portando uma estranha cabeça gnômica que Aldebaran chama de Hydro (Arafat não consegue falar, suspeito eu que é devido a este possuir um ferimento que lhe impede de abrir a boca ou o possível fato de ele não ter a língua. Nunca perguntei a causa. Não acho ético. De qualquer jeito, Aldebaran parece entender tudo o que Arafat insinua falar) que é capaz de noticiar a presença do perigo ao nosso redor.

Uma vez ouvi de Alexia - outra de nossas hóspedes, esta com poderes necromânticos e uma poderosa arma na qual ela chama de Lâmina das Bruxas - que Hydro era filho de uma Baba Yaga, um tipo de bruxa poderosa responsável pela criação da dor líquida. Pouco sei sobre o assunto, pouco sei sobre Alexia, a não ser que ela é a mais nova senhora da Torre da Necromancia de Mordae - uma sujeita nova e imatura demais para o cargo, o que me faz desconfiar da astúcia dos líderes do reino arcano.

Nos aventuramos nessa coisa e, pouco a pouco, compreendemos o que ela é e o que ela nos limita a fazer. É neste papiro que advirto ao leitor experiente algumas das características da Cidade de Carne.

A masmorra inteira tenta nos devorar. Não é boa ideia manter-se parado durante muito tempo. As paredes tendem a se fechar e morder como vampiros. Esteja aventureiro audacioso suficiente avisado que a única área capaz de realizar pleno descanso é a própria Taverna do Dragão Uivante, mesmo assim sob o custo de uma dezena de vigilantes aliados. Yin revelou-me que os bezoares espalhados pela Torre da Dragocracia esperam ser despertados para que estes emanem a proteção necessária para liberar novas áreas de descanso. Disse-me que conhecia alguém além dela capaz de fazer isso. Chamou-o de Sethos e disse-me que servo de Selloth, o deus sol, ele era.

As magias de cura são uma ofensa direta à Cidade de Carne. Mesmo um toque de mínima energia positiva aguça a fome da masmorra e atrai maiores desafios. Curar-se magicamente é de extrema necessidade, mas fazer isso gera o efeito colateral de tornar-se facilmente detectável pelas criaturas mais sérias da Cidade de Carne.

Nenhuma magia de invocação de criaturas funciona aqui. Seria mais óbvio que nenhum aliado da natureza convocado por um druida pudesse responder ao chamado, porém, a Cidade de Carne impede até mesmo a vinda das criaturas mágicas de outros planos, com exceção daquelas batizadas pelo diabolismo. Ai do conjurador que invocar a ajuda de algo infernal aqui. Estes são automaticamente aliados à Cidade de Carne.

Os mortos-vivos vistos na masmorra de carne são todos modificados e potencialmente mais poderosos. Tenho conhecimento que estas mudanças são advindas de magias do grimório denominado Libris Mortis e do estudo quimérico que a muito tempo tem sido desenvolvido pelos duergar escravizados pelos devoradores de mente do perdido e sombrio reino de Gargantuah.

Entre as criaturas aqui existentes, perduram aquelas que se denominam reis, príncipes, barões e condes da morte. Uma hierarquia criada pela própria Cidade de Carne que, assim como as terras mortais são divididas entre os senhores de engenho, a própria masmorra tem seus donos de terra. Seus pedaços de inferno.

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