quarta-feira, 28 de junho de 2017

Anotações de Sigmund: Zorrah

"Creio que você tenha finalmente tido algum tempo para a leitura de uma das minhas anotações, meu caro Aensell. Era de se esperar que a missão em que você se arriscou - seja ela qual for - tenha consumido bastante do seu tempo. Posso vê-lo mais maduro, mais decidido e, embora a palavra me dê arrepios na nuca, mais poderoso.

É isso o que a Teoria do Acaso faz com seu conhecedor: enche a mente de mil e uma possibilidades e você acaba tendo que escolher o mísero valor de UMA, correndo o risco de errar dramaticamente. Espero que minhas anotações lhe deem um norte e possam te desocupar de ter de pensar em um próximo passo.

Além dos princípios da Teoria do Acaso, muitos outros segredos foram desenterrados em Chattur'gah, conhecimentos deixados pela civilização em que eu, o meu mestre e, provavelmente, você, temos pouco conhecimento. É sobre isso que a carta que agora está em tuas mãos discorrerá.

Em meus estudos da Teoria do Acaso, consegui desenhar espirais que me revelaram muito da sua época, Aensell, desse futuro que para mim jamais será alcançado. Uma época em que deuses se tornarão escassos e impotentes. Época na qual Thanabulos, meu mentor, no auge de sua loucura, intitulou de "Desprezo aos divinos". 

Não vou me estender tanto no assunto. Talvez você já conheça mais da história do que a mim mesmo, então, corro o risco de me passar por ignorante, portanto, o que posso lhe adiantar é que a muitas eras atrás - numa época em que os conjuntos milenares de anos nem eram batizados de era - o aspecto dos seres que agora você chama de deuses, nasceu.

Eram muitos. Dez vezes mais do que a quantidade que existe atualmente. Eles eram apenas seres dotados do que agora explicamos ser "divino", vivendo numa época em que os três criadores ainda mantinham vigilância sobre Draganoth. Eles criavam - ou brincavam de criar - e, assim, deram origem a maioria das raças - praticamente todas, com exceção daquelas que vieram à este mundo por viagem planar - e as induzia num jogo, às vezes de astúcia, às vezes de beleza, às vezes de selvageria. Deste último tipo nasceu Zoe, a fera divina que é guardiã de Chattur'gah e cultuada por praticamente todas as tribos bárbaras daquela selva - também nascia, nesta época, o ainda parvo Kaz, que se alimentava do sangue que escorria das presas das feras ancestrais - Zoe, a brutal criatura, venceu tantas outras que tornou-se o mais exemplar caçador. O único. Às feras ancestrais derrotadas não cabia a morte, por isso eram jogadas no esquecimento pelos seus próprios criadores.

Hoje em dia, tanto eu, quanto você, Aensell, sabemos que "cair no esquecimento" não é somente um jargão. Tenho provas anotadas aqui em minha Biblioteca Etérea de que essa passagem refere-se ao plano dos cristais vermelhos e dos homens sem face - sejam lá que nomes essas duas coisas tenham - e, pelas incontáveis eras, a essência dessas criaturas espera ser libertada em receptáculos apropriados, em vítimas de destino e barganha.

A siglística de minhas espirais revelam a localização de uma das entradas para o Plano do Esquecimento e, somente os deuses sabem mas, indicados os resultados da minha teoria, eles convenceram-me de que você terá poder e sabedoria o suficientes para libertá-la. Uma fera ancestrais chamada Zorrah, partícula da criação dos três criadores, esquecida e ansiosa por retorno. 

Minha teoria não revelou-me qualquer tendência ou missão dessa criatura, mas, ainda assim, embora provável selvagem e rústica, o nome dela está lá, te esperando e é sua decisão libertá-la.

Muito bem, sabendo disso e aceitando a incumbência, encontre na décima oitava fileira do segundo andar da Biblioteca, escondido atrás dos livros: "Penumbra: uma viagem ao caminho dos mortos" e "A moeda de cobre" um conjunto de pergaminhos que revelará a estrada exata para uma caverna de cristais vermelhos no Abismo da Ventania. 

Prepare-se para viagem, meu caro Aensell. Previna-se contra tempestades de areia, pois perto da escuridão de Quéops você viajará caso sua decisão seja positiva. Recrute seus melhores aliados e, por enquanto, tente não chamar a atenção de Zykhait, a Rainha de Jade.

Boa sorte.

Sigmund Fawkes

Zorrah. Desenho rabiscado em papiro.



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