Um prólogo de morte
O Purgatório é o lugar onde as almas são encaminhadas para seus planos de morte. Os espíritos vagam pelo mundo cinzento de Veronicca até que suas respectivas divindades escolham seus destinos. |
Depois, caiu a clériga, gritando
para que Belisar e o bárbaro nativo de Nevaska fugissem enquanto houvesse tempo.
Um raio esverdeado e, segundos depois, havia nada mais do que uma poça de pele e sangue no lugar
de sua salvadora. Belisar e o bárbaro correram até o limite de seus corpos e um
pouco mais, então alcançaram o final da caverna de gelo. Pensaram que eram
sortudos, pois haveriam de escapar com vida de toda aquela perseguição, mas o
necromante de pele azulada estava mais perto do que eles imaginavam.
Houve um silêncio repentino que obrigou
a dupla parar e ficar atenta. Então um sussurro trazido dos mortos afagou o
rosto de Belisar e um toque gelado agarrou seu coração. Não havia mais
controle. Belisar só queria sair da caverna de gelo o mais rápido possível e
nem sequer olhou para trás a fim de analisar qual seria o fim do bárbaro. Ouviu
apenas seus gritos.
Nas próximas horas seus pés gelaram, mesmo protegidos pelas grossas botas de couro de mamute. Mindinhos caíram estilhaçados como vidro. Então, Belisar encontrou um paredão de rochas e se protegeu. Não conseguiu dormir. Viu um vulto o observar nos montes de neve e fugiu novamente. Assim foram os dois dias subsequentes.
Como havia sido citado anteriormente: Belisar caiu no chão pela décima vez, porém, houve algo diferente nesse acontecimento. Ele pôde ouvir uma voz acalentadora sussurrar-lhe aos ouvidos:
- Belisar, eu consigo enxergar seu sofrimento. Não tenha medo da morte. Ela é melhor do que este inferno de gelo.
As magias de necromancia roubam os vestígios das almas inocentes e as trancafiam em um cadáver tido como um receptáculo temporário criado pelo conjurador. |
E assim, Belisar se entregou ao inevitável. Sua alma desabou, como se ele estivesse voando muito alto e seu poder de levitação tivesse cessado repentinamente. Era um ectoplasma inerte e quase sem consciência. Logo não notaria nem mesmo o pálido insistente que cobria o submundo.
Vagou lento pelo rio de águas fracas até sentir alguém lhe puxando.
O sujeito carregava um sorriso desdenhoso e uma mão cadavérica tão morta quanto qualquer espírito:
- Sua alma é minha!
Sussurrou o necromante. Ele estava
ali, no mundo de Veronicca, como se fosse um caçador indigno de falhas e puxou
Belizar semi-consciente de volta. Belisar abriu os olhos, estava no chão de
gelo, coberto pela neve, mas não sentia frio. O necromante o olhava imperioso:
- Fique de pé,
comanda a voz de Saulot.
E Belisar se curvou e desajeitadamente
se pôs de pé, trôpego. O necromante de pele azulada andou. Belisar o seguiu."
...
Veronicca e Saulot possuem aspectos
similares, mas dogmas bem diferenciados, para não dizer controversos. Veronicca,
a primordial deusa da morte encaminha as almas para o purgatório num ciclo de morte e vida incessante. Para ela, almas são importantes. A morte é importante.
A capacidade de manipular almas é digna apenas de seus clérigos e mesmo assim,
estes são recomendados a não abusar desse poder.
Saulot é a morte. Almas são míseras matérias-prima e elas só servem para alimentar de energia negativa os mortos-vivos de sua
horda trôpega. Os necromantes ambiciosos seguem Saulot e estes são caçados
pelos sacerdotes da deusa da morte. Os mortos-vivos são destruídos e novos são
erguidos, não importa quantas almas sejam maculadas, Saulot é a representação
da mácula da morte.
Para Veronicca a morte é uma bênção.
Para Saulot a morte é matéria-prima.
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