quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Sobre os povos mortais...

 
Os povos da Guerra da Era

           Era uma noite muito mais noite quando Freya matou a prole sombria que tinha forma de morcego e encerrou o combate das tribos do urso, lobo e águia contra os canibais da pirâmide de Ankhashadalûr e foi coroada líder da aliança. Os bárbaros de Chattur’gah reuniram seus arsenais e marcharam para Sazancross, sem titubear, ao pedido dela e todos perceberam que aquela havia sido a decisão certa pois, enquanto abandonavam o lar ancestral viram as sombras cobrirem a floresta de profanação. Freya havia sonhado com um pássaro de fogo e a tribo da águia acatou isso como uma dádiva de gente escolhida, enquanto a tribo do lobo, leal a seus comparsas, prometeram derramar sangue na maior das guerras.

            Zhor Drakhar havia profetizado algo bem anteriormente à marcha para a cidade do fogo. “Veem as eternas chamas em seus pedestais? Elas brilharão forte uma vez mais! Os líderes devem estar com suas armas em mãos e conceber a vontade de Hefasto, exatamente como escrito está nas pedras do deus vulcânico”. O anão de chumbo e fogo apenas confiou no êxito daqueles que um dia o libertaram e estes não falharam. As armas dos líderes anões golpearam as chamas eternas quando estas fervilharam anunciando o começo da maior das guerras. Machado, martelo e picareta se uniram e, unânimes, cederam as muralhas anãs e se apossaram das caravelas de madeira e aço, tomando caminho para a terra do fogo.

            Uma vez mais, depois de três séculos, os oráculos saíram de suas torres no deserto e sentiram as dunas nos pés durante a caminhada para a capital Mênfis, onde chegaram ao mesmo tempo, os seis, perante o trono da esfinge e divulgaram suas visões idênticas. Sethos reforçou as premonições contando sobre o mal denominado mortalha, tão escuro quanto o deserto da rainha dos chacais e sua palavra foi ouvida, pois o imortal havia transcendido corpo e espírito peregrinando pela escuridão sem jamais abandonar a fé no deus sol e, por isso, era digno de ser chamado de um dos mais sábios. Os nômades do deserto iniciaram a jornada atravessando os espelhos planares, criados a muito tempo pelos magos de sal.

            Os vassalos de Bahamut abandonaram o estreito quando os magos de Mordae ameaçaram criar a cúpula arcana usando os limites do anel de montanhas como fronteira da proteção. Eles derrubaram pinheiros e ergueram construções, lutaram arduamente contra os yeths, sabendo que ali nunca seria um lar. Esperaram pelo chamado da guerra que havia sido profetizada pelo deus dragão e esse aviso veio com Torkstone, livre da prisão de pedra, vindo da nevasca além. Os servos do dragão de prata já estavam preparados para uma longa andança e para a maior das guerras. Marcharam, também, para a terra do fogo.

            Gwyneth, por muito tempo, foi uma águia planando num céu solitário e cinzento. Ela observou as florestas se definharem sabendo que suas magias não serviriam para restaurar a vida nelas. A elfa, então, se deparou com as oito linhas perfeitas e organizadas que formavam o exército de seus familiares, marchando com armas iluminadas e lideradas pelos anjos de auréola pulsante. A canção das harpas élficas mantinha o perigo das sombras distante. O conselho dos patriarcas chegou a distintas decisões e apenas três dos sete grandes mantinham-se unidos às tropas, mas, de qualquer forma, Gwyneth ficou satisfeita pois, um único patriarca tem a força de um deus. Reuniu-se ao exército em direção a maior das guerras.

            Lorde Irun sonhou a premonição do pássaro de fogo pela terceira vez na vida. A primeira destas havia revelado a ele que quando, enfim, a terceira fosse apresentada, ele chegaria ao fim de seu reinado. Acordou suado e ofegante, mas satisfeito. Estava velho e havia passado por muito mais do que um espírito mundano poderia aguentar. Sempre quis morrer lutando, por isso, ficou agradecido com o fato de que seu último sonho o levasse à guerra. A última grande guerra da sua vida. As flâmulas esmeraldas foram mais uma vez hasteadas e os guerreiros da planície sem fim abandonaram o ofício de trabalhadores e voltaram a marchar em direção àquilo no qual eles nasceram e foram treinados a fazer. Anthrahaxx, o dragão de escamas metálicas, seguiu o grupo pela metade do tempo, em seguida, separou-se no intuito de concluir sua última missão antes da guerra. Apenas Lorde Irun soube o que era e, você, leitor, apenas suspeita o que seja.

...mas isso é história para outras anotações.


            Os seis exércitos se reuniram sob a terra vulcânica de Sazancross. Ao longe os heróis puderam contemplar a última resistência dos povos mortais borrar a terra e o céu de esperança. As garras e as presas dos bárbaros, o chumbo e o fogo dos anões, as visões e a sabedoria dos nômades do deserto, a lealdade e resistência dos vassalos de Bahamut, a beleza e perfeição dos exércitos élficos e as flâmulas esmeraldas, símbolo da valentia humana, drapejando pelos ares do único lugar ainda seguro do mundo. Aquelas são as almas que carregam o último resquício da existência de um deus de esplendor e que antecipam o final da Quarta Era.

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