terça-feira, 11 de agosto de 2015

Contos: O porquê de as folhas secarem



Fazer o quê? 
Ela era uma pedra.
Uma pedra que cantava.
O vento encarecia seus olhos quando a bem via.
Um par de sublimes olhos de quem estava acostumada a ficar ali ...
...parada...
contemplando os passos da maré que nunca a alcançava,
admirando cada nascer e pôr do sol a espera da água que,
um dia, insistente, a desfaria em pedaços.
E, sem saber, o vento apaixonado lhe varria o rosto
e lhe tirava o sal da maresia que transbordava 
pelas pétreas camadas da face.

Há quem apreciasse seu silêncio da manhã, 
ou as horas inquietas da tarde,
mas seus melhores sussurros eram os noturnos.
Ali, a pedra podia praguejar contra o frio...
podia, enfim, reclamar-se sem a presença 
dos ouvidos perscrutadores.

E o vento?
Bem, o vento farfalhava em companhia das folhas das árvores.
Ora rodopiava em busca de fuga,
ora apenas parava e apreciava a pedra apreciar.
Vez ou outra, uma ou duas folhas se desprendiam dos galhos
e acompanhavam o vento.
Isso o deixava feliz. 
Mas as folhas secavam rápido demais para a eternidade
em que o vento estava fadado a soprar.

Enfim, o vento se indignava por não ter forças 
para levar a pedra.
E a pedra lastimava-se por não ter a capacidade
de se deixar ser levada.
Então, a pedra cantava e o vento soprava.


Nenhum comentário: