CAPÍTULO 1 – A
CHUVA DE ANJOS
“Acreditamos ficar tristes
pela morte de uma pessoa,
quando na verdade é apenas
a morte o que nos impressiona”
pela morte de uma pessoa,
quando na verdade é apenas
a morte o que nos impressiona”
O Príncipe dos Anjos
Amil Gaul |
Aquele Templo do Esplendor era
diferente de todos que foram construídos nas terras abaixo das nuvens. Aqueles
templos menores, apesar de serem construídos com toda riqueza e ostentação que
os mortais poderiam aderir, não chegavam aos pés daquela estrutura celeste. O
monumento foi erguido acima das nuvens apertadas e tingia o céu de um branco
luminescente – quem olhar lá de baixo, das terras planas, não conseguirá ver o
mais majestoso dos templos, muito menos poderá alcançá-lo – mas o viajante
estava ali, agora prestes a atravessar os grandes portões de bronze. Do lado de
fora, pináculos e colunas sustentavam o teto refinado a ouro e prata, os
portões de bronze desenhavam figuras angélicas carregando espadas bastardas e alçando
voo a partir de suas asas, os anjos despencavam num desfiladeiro, bem abaixo do
céu – talvez, bem abaixo da própria terra – mas as figuras nos portões de bronze
não revelavam mais do que isso.
Aquele Templo do Esplendor era
grandioso, em seu interior havia vidraças semitransparentes com a figura
imponente dos anjos protetores, elas contavam uma história antiga – e
desconhecida pela maioria. O teto era distante e terminava sob a forma côncava
formada de espelhos cristalinos que filtravam as luzes do sol e transformavam o
interior da construção em um lugar intensamente iluminado. No chão havia algo
ainda mais impressionante, havia um círculo de bronze com imagens semelhantes
às encontradas nos portões de entrada, mas agora desenhavam o lugar onde
aqueles anjos haviam chegado após descer àquele abismo – agora estes carregavam
suas armas de luz e combatiam tudo que saía das sombras, um emaranhado de
criaturas visivelmente vis de muitos olhos e muitas presas.
O Templo do Esplendor |
- Seja bem-vindo Príncipe dos Anjos – ecoou uma voz
onipresente – depois de tantos títulos conquistados, aquele no qual julguei o
mais impressionante foi o que usei. Ainda não sei como você deseja ser chamado.
O invasor esperava pelas
saudações do anfitrião. Esperava também pela dúvida que o mesmo haveria de ter
ao tentar nomeá-lo. De todos os seus títulos, o, então, Príncipe dos Anjos
escolheu o mais humilde.
- Amil Gaul é o meu nome. – respondeu com sinceridade.
- Amil Gaul? – surpreendeu-se a voz – de todos os
títulos possíveis, você escolheu aquele dado a você por um grupo seleto de
mortais. Por quê?
- Não há uma explicação na qual possa se interessar
agora, Juiz.
Então, a voz onipresente deu forma a um anjo. Sua pele era branca e luminosa, cabelos longos e negros que se estendiam até os quadris, olhos azuis-claros distantes, o divino trajava uma armadura prateada e tinha o mesmo porte guerreiro de Amil Gaul. Nenhum dos dois, entretanto, parecia ostentar sentimentos de luta – assim como nenhum carregava armas.
- Tomei a forma que achei que mais lhe agradaria. – afirmou o Juiz, mas Amil Gaul não ficou impressionado – veio atender ao chamado das doze estrelas?
Amil Gaul afirmou com a cabeça e completou – Ainda não
entendo como este mundo pode ter tantos problemas. Tantos que não há sequer uma
geração de paz. – o Juiz assentiu, com os olhos fitando o nada sob os pés dele
– O Inimigo está adiantado.
- Do que se trata? – perguntou Amil Gaul.
- Os deuses se reuniram. Mas agora, a decisão não pôde ser contornada pela diplomacia do líder.
- Lorde Splendor pregou durante muito tempo a nosso favor. – afirmou o Príncipe dos Anjos.
- A favor dos mortais, você quer dizer – consertou o Juiz, mas Amil Gaul não pareceu se incomodar.
Mikhail, o Juiz |
- Nos próximos dias, em um vilarejo humilde nas redondezas do reino de Asura, nascerá um bebê milagroso – continuou o Juiz – este irá crescer e a ele será dada uma missão muito importante.
Amil Gaul assentiu. Sabia que missão importante era essa. O Juiz, por sua vez, previu que Amil Gaul entenderia o recado e achou desnecessário falar sobre um futuro mais distante, então continuou:
- Mas o inimigo sabe disso, e vai tentar fazer algo para impedir este nascimento.
Amil Gaul deu as costas ao templo e caminhou firme até a escadaria:
- Basta me indicar em que direção estará a criança.
O Juiz seguiu os passos do Príncipe dos Anjos e revelou-lhe a trajetória. Um par de asas brancas, como as nuvens do céu, se desenterrou da carne e costas de Amil Gaul, sem sangue e sem dor, mas que, visivelmente, tomara um pouco da energia divina que o Príncipe dos Anjos tanto precisava. Assim como os anjos desenhados nos portões de bronze, Amil Gaul despencou do templo dos céus e procurou a sua horda de demônios na escuridão.
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